O cavalo Mangalarga Marchador tem como função principal a marcha, que é distinta das outras encontradas nos demais marchadores do mundo.
A marcha, que é o passo acelerado, se caracteriza por transportar o cavaleiro de maneira cômoda, pois não transmite nele os impactos ocorridos com os animais de trote.
Durante a marcha, o Mangalarga Marchador descreve no ar um semicírculo com os membros anteriores e usa os posteriores como uma alavanca para ter impulso.
Marchando, ele alterna os apoios nos sentidos diagonal e lateral, sempre suavizados por um tempo intermediário, o tríplice apoio, momento em que três membros do Mangalarga Marchador tocam o solo ao mesmo tempo.
Aparência Geral
Porte médio, ágil, estrutura forte e bem proporcionada, expressão vigorosa e sadia, visualmente leve na aparência, pele fina e lisa, pelos finos, lisos e sedosos, temperamento ativo e dócil.
Altura
Machos: a ideal é de 1,52 m, admitindo-se para o registro definitivo a mínima de 1,47 m e a máxima de 1,57 m
Fêmeas: a ideal é de 1,46 m, admitindo-se para o registro definitivo a mínima de 1,40 m e a máxima de 1,54 m
Cabeça
Forma: triangular, bem delineada, média e harmoniosa, fronte larga e plana
Perfil: retilíneo na fronte e de retilíneo a subcôncavo no chanfro
Olhos: afastados e expressivos, grandes, salientes, escuros e vivos, pálpebras finas e flexíveis
Orelhas: médias, móveis, paralelas, bem implantadas, dirigidas para cima, de preferência com as pontas ligeiramente voltadas para dentro
Garganta: larga e bem definida
Boca: de abertura média, lábios finos, móveis e firmes
Narinas: grandes, bem abertas e flexíveis
Ganachas: afastadas e descarnadas
Pescoço
De forma piramidal, leve em sua aparência geral, proporcional, oblíquo, de musculatura forte, apresentando equilíbrio e flexibilidade, com inserções harmoniosas, sendo a do tronco no terço superior do peito, admitindo-se, nos machos, ligeira convexidade na borda dorsal - como expressão de caráter sexual secundário - crinas ralas, finas e sedosas.
Tronco
Cernelha: bem definida, longa, proporcionando boa direção à borda dorsal do pescoço
Peito: profundo, largo, musculoso e não saliente
Costelas: longas, arqueadas, possibilitando boa amplitude torácica
Dorso: de comprimento médio, reto, musculado, proporcional, harmoniosamente ligado à cernelha e ao lombo
Lombo: curto, reto, proporcional, harmoniosamente ligado ao dorso e à garupa, coberto por forte massa muscular
Ancas: simétricas, proporcionais e bem musculadas
Garupa: longa, proporcional, musculosa, levemente inclinada, com a tuberosidade sacral pouco saliente e de altura não superior à da cernelha;
Cauda: de inserção média, bem implantada, sabugo curto, firme, dirigido para baixo, de preferência com a ponta ligeiramente voltada para cima quando o animal se movimenta. Cerdas finas, ralas e sedosas
Membros anteriores
Espáduas: longas, largas, oblíquas, musculadas, bem implantadas, apresentando amplitude de movimentos
Braços: longos, musculosos, bem articulados e oblíquos
Antebraços: longos, musculosos, bem articulados, retos e verticais
Joelhos: largos, bem articulados e na mesma vertical do antebraço
Canelas: retas, curtas, descarnadas, verticais, com tendões fortes e bem delineados
Boletos: definidos e bem articulados
Quartelas: de comprimento médio, fortes, oblíquas e bem articuladas
Cascos: médios, sólidos, escuros ou claros e arredondados
Aprumos: corretos
Membros posteriores
Coxas: musculosas e bem inseridas
Pernas: fortes, longas, bem articuladas e aprumadas
Jarretes: descarnados, firmes, bem articulados e aprumados
Canelas: retas, curtas, descarnadas, verticais, com tendões fortes e bem delineados
Boletos: definidos e bem articulados
Quartelas: de comprimento médio, fortes, oblíquas e bem articuladas
Cascos: médios, escuros e arredondados
Aprumos: corretos
Ações de Passo e Galope
Passo: andamento marchado, simétrico, de baixa velocidade, a quatro tempos, com apoio alternado dos bípedes laterais e diagonais, sempre intercalados por tempo de tríplice apoio
Características ideais: regular, elástico, com ocorrência de sobre pegada; equilibrado, com avanço sempre em diagonal e tempos de apoio dos bípedes diagonais pouco maiores que laterais; suave movimento de báscula com o pescoço; boa flexibilidade de articulações
Galope: andamento saltado, de velocidade média, assimétrico, a quatro tempos, cuja seqüência de apoios se inicia com um posterior, seguido do bípede diagonal colateral e se completa com o anterior oposto
Características ideais: regular, justo, com boa impulsão, equilibrado, com nítido tempo de suspensão, discreto movimento de báscula com o pescoço, boa flexibilidade de articulações
Andamento de Tríplice Apoio
Marcha: andamento marchado, simétrico, a quatro tempos, com apoio alternado dos bípedes laterais e diagonais, sempre intercalados por momentos de tríplice apoio
Características ideais: regular, elástico, com ocorrência de sobre pegada ou ultra pegada, equilibrado, com avanço sempre em diagonal e tempos de apoio dos bípedes diagonais maiores que laterais, movimento discreto de anteriores, descrevendo semicírculo visto de perfil, boa flexibilidade de articulações
Pelagem
A predominante é a Tordilha, seguida da Castanha. São também freqüentes a Baia e Alazã, ocorrendo em menor proporção a Negra, a Branca, a Rosilha, a Lobuna e a Pampa
Expressão e Caracterização
O que exprime e caracteriza a raça em sua cabeça, aparência geral e conformação.
Os objetivos da raça - também conseguidos através do adestramento dos animais - são as exposições, os concursos de marcha, o enduro, a lida com o gado e as provas funcionais.
Anualmente são realizados mais de 100 eventos nos diversos Estados do Brasil, o que comprova a grandeza do Mangalarga Marchador, que gera cerca de 40 mil empregos diretos e mobiliza 200 mil pessoas indiretamente.
A fácil atuação do Mangalarga Marchador frente a obstáculos naturais demonstra sua aptidão nata para o trabalho e esportes em geral. No enduro, os animais da raça têm valorização crescente pela comodidade da marcha, que garante conforto ao cavaleiro, e pela resistência para percorrer longas distâncias.
A Exposição Nacional, a mais importante mostra do Marchador, é realizada desde 1982 pela Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte, e reúne representantes de todos os Estados.
Centenas de expositores levam à pista os seus animais, todos credenciados anualmente com os títulos de Campeão ou Reservado Campeão nas exposições oficializadas pela entidade em todo o País. Em 2010, a Exposição Nacional aconteceu entre os dias 15 e 24 de julho. Saiba Mais: http://abccmm.org.br/
Serão as marchas um salto evolutivo sobre o trote? As marchas são os andamentos intermediários do cavalo marchador, executados em quatro tempos, e que substitui o trote em algumas famílias do Equus caballus. Elas representam um dos temas mais controvertidos do ‘mundo do cavalo’.
Até a presente data, a maioria dos livros que trata dos andamentos ou andaduras do cavalo descreve a marcha como sendo “artificial”, isto é, ensinada pelo homem. Entretanto, os modernos estudos da neurofisiologia do exercício nos ensinam que todos os movimentos de uma espécie animal foram incorporados através de mutações milenares e, por seleção natural, passaram a fazer parte do ‘elenco’ de movimentos daquele tipo de animal. Portanto, na equitação, não é possível se ‘ensinar’ novos movimentos ao cavalo, mas apenas aprender a utilizar os movimentos naturais que o animal possui (Rooney 1974).
O mais antigo vestígio de cavalos marchadores foi descoberto na África pelo paleontólogo americano Dr. E. Renders. Os rastros fossilizados encontrados na lava vulcânica de Laetoli, na Tanzânia, tem cerca de 3,5 milhões de anos e pertencem ao Hipparion, uma espécie de eqüida tridáctilo, um dos ancestrais do moderno Equus caballus. Até a publicação dos estudos do Dr. Renders a ciência não sabia se as marchas eram de origem genética ou se eram andamentos artificiais, ensinados pelo homem (MacFadden 1992).
No passado, com a descoberta de animais marchadores na Espanha alguns estudiosos propuseram a teoria de que, em sua origem, o cavalo teria sido marchador e que através da sua evolução tivesse se tornado trotador. Entretanto, isto contraria as leis da evolução propostas por Darwin e outros cientistas que afirmam que a evolução biológica começa com formas primárias e através de mutações e da seleção natural transformam-se em espécies mais complexas. A marcha, executada em quatro tempos é, do ponto de vista da biomecânica, uma dinâmica mais complexa do que o trote, executado em apenas dois tempos. Portanto é mais razoável se supor que a marcha seja uma evolução sobre o trote do que o contrário.
Eu, particularmente, acredito que algumas famílias dos eqüidas, animais inicialmente trotadores, desenvolveram a capacidade de se movimentar com a segurança do passo e com a velocidade do trote ao se deslocarem por terrenos vulcânicos e lamacentos das eras eocena e mio cena. As marchas, por serem andamentos executadas em quatro tempos, exigem complexidade neurofisiológica superior aos andamentos executados em dois tempos – o trote e a andadura.
O resultado prático das marchas na dinâmica do cavalo é que nenhum outro tipo de animal avança com mais firmeza sobre qualquer terreno – seja ele duro ou escorregadio – com a segurança que este andamento quaternário oferece aos cavalos marchadores. No seu deslocamento, a cada passada, este animal terá no mínimo um pé em contato com o solo, evitando assim os momentos de suspensão total típicos do trote. A marcha poderá atingir a velocidade de até 18km/hora sem perder a segurança do passo. Este fenômeno biomecânico deu aos cavalos marchadores uma vantagem evolutiva sobre os trotadores nas regiões supracitadas. As marchas são, sem dúvida, uma evolução sobre o trote e que ajudaram a dar longevidade filogenética ao Equus caballus. O próprio Dr. Renders concluiu que a marcha no cavalo moderno poderia substituir, com vantagem, o trote (Renders – The gait of Hipparion from fossil footprints in Laetoli, Tanzânia, publicado na revista Nature).
Entre os cavalos marchadores existe um grande número de tipos de andamentos marchados e que na antigüidade foram amplamente explorados para a montaria. A habilidade neurofisiológica que dava grande estabilidade na locomoção do cavalo marchador dava também grande comodidade ao seu cavaleiro, uma vantagem no relacionamento simbiótico homem-cavalo. Sabemos que as cavalarias dos hunos, turcos e mongóis, as melhores do mundo, eram formadas essencialmente por cavalos marchadores. Até hoje os animais das estepes da Mongólia, os resíduos das cavalarias conquistadoras de Genghis Khan e seus sucessores, são na sua maioria animais de andamentos marchados.
Hoje, com melhor compreensão da biomecânica dos eqüinos podemos dividir os andamentos marchados em dois grupos principais: os andamentos conhecidos no Brasil como marcha picada e marcha batida. As demais modalidades são provavelmente variantes destes dois tipos, sendo algumas mais lateralizadas, à semelhança da picada, e outras mais diagonais, à semelhança da batida. Outras são apenas o aumento da velocidade do andamento original (nos Estados Unidos chamado de ‘rack’ e no Brasil conhecido por ‘guinilha’).
Para o cavaleiro, a marcha picada e a marcha batida se apresentam muito úteis, mas com propostas diferentes. A marcha picada é mais ‘macia’ e desestabiliza menos o cavaleiro inexperiente ou débil. Este andamento não deve, entretanto, ser utilizado para a equitação esportiva – não por uma deficiência do cavalo, mas do cavaleiro: o sistema nervoso humano não é capaz de se coordenar neurofisiologicamente com a velocidade do seu ritmo quaternário de toques eqüidistantes – 1, 2, 3, 4. O homem, por ser bípede, só tem facilidade de coordenação em dois tempos e a sua coordenação com a movimentação do cavalo é essencial nos esportes.
O trote é feita em dois tempos e a marcha batida, apesar de ser quatro tempos, tem os momentos das trocas de apoio bem perceptíveis. Por isso o uso da marcha picada e suas variantes são indicados apenas para as cavalgadas, passeios e romarias, que não exigem do usuário uma equitação de precisão. A marcha batida poderá se revelar o melhor andamento para a equitação clássica. Este deslocamento, também em quatro tempos, mas com os toques dos cascos soando de dois a dois — 1,2 /3,4 – é ótimo para a equitação esportiva. A marcha batida permite a total união neurofisiológica entre o cavalo e o cavaleiro dispensando o senta-levanta do trote.
A marcha batida dá a posição correta ao cavaleiro na sela e permite ao conjunto executar todas as transições com mais comodidade para o cavaleiro e maior harmonia do conjunto. Com a nova compreensão da neurofisiologia da equitação não podemos deixar de vislumbrar a volta do cavalo de marcha batida para os esportes modernos como sendo a maior contribuição para a equitação clássica desde que Caprilli, há cem anos, inventou o “assento adiantado”.
Acredito que as deficiências estruturais que a média dos cavalos de marcha ainda carrega por falta de uma seleção zootécnica mais rigorosa para a equitação avançada, poderão ser superadas, de modo endogâmico, através do cruzamento e seleção animais puros da raça que possuem as qualidades desejadas.
Com os recursos da moderna zootecnia eqüina, em algumas gerações poderá se chegar ao cavalo de marcha batida com o padrão mundial de potência. A atual tropa de 300 mil cavalos Mangalarga Marchador garante a existência, dentro da população, de animais evoluídos para fazerem esse “upgrading” genético da raça.
No século 21 o cavalo de marcha batida, poderá se revelar a Ferrari dos cavalos modernos. E o Brasil, o maior criador de cavalos de marcha do mundo, poderá se posicionar como o melhor produtor internacional deste tipo de cavalo.
Palestra proferida por Bjarke Rink na XVI Semana Acadêmica de Zootecnia da UFRRJ
A condição de ser um animal resistente, dócil e cômodo e com regularidade, permitiu ao Mangalarga Marchador entrar para o Guinness Book, o Livro dos Recordes.
Entre maio de 1991 e julho de 1993, três cavaleiros - Jorge Dias Aguiar, 64 anos, Pedro Luiz Dias Aguiar, 60 anos, e o capataz de Pedro, José Reis, 65 anos - e seis animais da raça fizeram uma cavalgada durante aqueles dois anos, entre os pontos mais distantes do Brasil, Chuí, no Rio Grande do Sul, e Oiapoque, no Amapá, pelo projeto "Brasil 14 mil".
Com o retorno a São Paulo, percorreram 19.300 quilômetros. Uma das maiores estratégias de marketing feitas com a raça, o projeto acabou transformando-se na "Cavalgada Mercosul - Projeto Brasil 14 mil", com a inclusão da Argentina e Paraguai, totalizando 25.104 quilômetros.
O Marchador, antes de se transformar em Mangalarga, era um desbravador dos sertões. E assim foi desde o início da sua história, que começou no ciclo do ouro, do sangue e das lutas armadas pela posse das riquezas escondidas no solo de Minas Gerais.
Na guerra das Emboabas, quando paulistas e portugueses cruzaram armas pelo domínio das minas no interior, um bom cavalo Marchador valia uma libra de ouro apurado paga pelo conforto do seu andamento, velocidade do seu galope e confiança no seu brio.
Depois do barulho da guerra, a terra disputada começou a devolver, com riquezas outras, a quem nela trabalhasse, sem que lhe adubasse com sangue. Com a força do café, arroz, milho, feijão, cana-de-açúcar, bovinos e eqüinos, Minas começou a crescer.
O cavalo Marchador tornou-se ainda mais indispensável na abertura dessas terras montanhosas, sem estradas, pontes, ferrovias e sem, ao menos, um rio navegável para ligar a nova província ao litoral.
O Marchador era o companheiro inseparável do fazendeiro no seu trabalho no campo e nas suas viagens pelo interior, principalmente quando tinha negócios a tratar no mercado da comarca, em Ouro Preto, no porto, ou na corte do Príncipe Regente, na cidade do Rio de Janeiro. Nesta época, raiar do século XIX, teve início, no Sul de Minas, a seleção do Mangalarga como raça.
Em casa, na fazenda, o Marchador era o cavalo predileto, pela segurança do seu andamento, para a lida com o gado, principalmente nos pastos altos das serras, que caracterizam Minas Gerais. Nos dias Santos, com sela, cabeçada e rédeas de níquel ou prata, era o cavalo ideal para acompanhar a procissão em homenagem à padroeira da cidade.
Aos domingos, a parentada e os amigos reuniam-se bem cedo no terreiro, com Mangalarga Marchador e farejador paulista, para mais uma caçada ao veado campeiro, esporte preferido por essa gente das geraes.
Achado o rastro, avistada a caça, começava o tropel pelas chapadas, cruzando encostas das grotas, cortando cristas das serras, pelas veredas dos vales, através dos capões das matas, saltando pau, pedra e riacho. Mangalarga Marchador e veado campeiro, num duelo de agilidade, velocidade e resistência animal.
Vencida a caça voltavam os cavaleiros, de rédeas frouxas e marchas suaves, os longos quilômetros percorridos a galope. Mal sabiam eles, cavalos e cavaleiros perdidos no longínquo sertão mineiro, a revolução que iria causar um dia estes andamentos marchados.
Os anos Sessenta
A revolução industrial brasileira, tão desejada pelos governantes republicanos, começava, já nos anos sessenta, a mostrar a sua face perversa com a poluição ambiental, a favelização da periferia, o trânsito caótico e o crime crescente nos grandes centros urbanos. Foi quando a sociedade desiludida começou a ter ‘saudades do luar do sertão’ e a procurar, no campo, um pouco de paz para o seu descanso e lazer. Com esta perspectiva urbana ficou montado o ‘cenário’ para o ressurgimento do cavalo na sociedade brasileira.
Donos de fazendas descobriram que suas propriedades podiam se tornar rentáveis com seleção genética de eqüinos, bovinos e outros empreendimentos rurais. Donos de sítios e seu filhos descobriram que o cavalo é o grande companheiro para o seu lazer de fim-de-semana. Em menos de 20 anos, só a criação de cavalos de raça devolveu para o campo o maior investimento de origem urbana desde que Cabral havia, inadvertidamente, batizado a República Federativa do Brasil de ‘Ilha de Vera Cruz.’
O século XX
Apesar da adversidade inicial, o século XX deixou um saldo positivo para o Mangalarga Marchador, que se tornou a maior raça criada no Brasil, com criatórios em quase todos os Estados da Federação.
O século 21 será certamente conhecido na história da humanidade, como o século da ‘regeneração ambiental’. Depois de séculos de guerra contra a natureza que destruiu florestas, arrasou espécies inteiras de animais e plantas, matou rios e infestou a atmosfera, o homem negocia um novo acordo ambiental a favor da natureza, qual seja, um acordo de paz e convivência ecológica sustentada.
E com o reconhecimento da grande biodiversidade do Pais, o ‘mato’ que, no tempo de Rui Barbosa era sinal de atraso, vai virando parâmetro de civilização e geração de riqueza em todos os países desenvolvidos do mundo.
E nesta ‘nova ordem’, o Mangalarga Marchador poderá se tornar, para todo o Brasil, o que foi para Minas Gerais no século 19: o companheiro inseparável na maior aventura de todas, a aventura de viver.
No século 21, o Mangalarga Marchador será importante ou irrelevante a depender do que nós, os criadores, dele fizermos.
O Mangalarga Marchador é uma raça de cavalos cuja origem remonta à coudelaria Alter Real, que chegou ao Brasil por meio de nobres da Corte portuguesa e, após, cruzada com cavalos de lida, em sua maioria de raças ibéricas (bérberes), que aqui chegaram durante a época da Colonização do Brasil.
Segundo a tradição em 1812, Gabriel Francisco Junqueira (o Barão de Alfenas) ganhou de D. João VI, um garanhão da raça Alter Real e iniciou sua criação de cavalos cruzando este garanhão com éguas comuns da Fazenda Campo Alegre, situada no Sul de Minas onde hoje é o município de Cruzília. Como resultado desse cruzamento, surgiu um novo tipo de cavalo que foi denominado Sublime pelo seu andar macio.
Esses cavalos cômodos chamaram muito a atenção, e logo o proprietário da Fazenda Mangalarga trouxe alguns exemplares de Sublimes para seu uso em Paty do Alferes, próximo à Corte no Rio de Janeiro. Rapidamente tiveram suas qualidades notadas na sede do Império - principalmente o porte e o andamento - e foram apelidados de cavalos Mangalarga numa alusão à fazenda de onde vinham.
Em 1934 foi fundada a ABCCRM - Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga. Anteriormente tinha havido uma notável migração de parte da Família Junqueira para São Paulo em busca de melhores terras e riqueza.
Chegando ao novo solo, com topografia e cultura diferentes, onde a caçada ao veado também era diferente, os cavalos tiveram que se adaptar a uma nova topografia e necessidades, tendo a precisão de um cavalo de melhor galope e muito mais resistente, por isto foi mais valorizado a marcha trotada que tem apoios bipedal de dois tempos com tempo mínimo de suspensão, que cumpria as novas exigências do animal sem perder a comodidade, pois os animais de tríplice apoio apesar de serem mais cômodos, não conseguiam acompanhar o ritmo alucinante das caçadas e a lida com gado em campo aberto, que eram as duas maiores funcionalidades do cavalo Mangalarga no Estado de São Paulo.
Tanto o Mangalarga Marchador como o Mangalarga ou Mangalarga Paulista, são duas raças ibérica.
Mangalarga Paulista
Devido à inevitável diferença que estava surgindo entre os criadores de Mangalarga de São Paulo e de Minas Gerais, foi fundada em 1949 uma nova Associação, a ABCCMM.
Esta Associação teve origem a partir de uma dissidência de criadores que não concordavam com os preceitos estabelecidos pela ABCCRM e teve como objetivo principal a manutenção da Marcha Tríplice Apoiada.
O tempo passou e a ABCCMM é hoje a maior associação de equinos da América Latina, com mais de 250.000 animais registrados e mais de 20.000 sócios registrados, com cerca de três mil ativos. Durante o período de meados de 70 ao final da década de 1990, o Marchador teve uma ascensão astronômica no segmento da equinocultura, batendo recordes de animais expostos, registrados e de preços em leilões oficiais.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Todos procuram um cavalo “perfeito” morfologicamente e bonito. Eu também. No entanto, freqüentemente qualidades relacionadas ao caráter do cavalo, aptidão e temperamento superam com folga as características físicas. Temos, então, que conciliar todas estas qualidades.
Força é fundamental até nas tarefas mais simples, tanto na marcha como para partir rápido em busca de um boi, por exemplo. No entanto, a força e capacidade de explosão muscular do animal devem ser associadas à sutileza e qualidade dos movimentos., proporcionadas pela qualidade do treinamento.
Facilidade em aprender e se movimentar, com respostas rápidas, precisas e conscientes, seja nas manobras básicas, no início do treinamento ou nas mais complexas, já em estagio mais avançado. Cavalos com essas características têm um imenso potencial.
Muito se fala em docilidade e índole. O cavalo que nasce com boa índole nem sempre é dócil na montada. Devemos procurar as duas coisas e isso se traduz em um cavalo que tem vontade de cooperar com o cavaleiro, disposto a aprender e ir junto com a gente. Estes animais, junto com os cavaleiro, têm a consciência do trabalho realizado.
Característica essencial em seu cavalo de sela. Afinal, eles são submetidos a situações tão diversas que seria como dizer que eles são pau pra toda obra”. É muito positivo quando damos a esse animal a oportunidade de fazer diferentes atividades, o que vai “construir” um animal mais descontraído, competente e apto a enfrentar toda e qualquer adversidade.
É difícil falar da versatilidade sem falar em coragem. Pela própria seleção genética que se faz, grande parte dos animais tem hoje essa qualidade, porém sem perder seu instinto natural, que os feaz decidir as coisas em função da sobrevivência. Cabe a nós, então, ajudá-los a temperar essa qualidade.
Quem não deseja isso num cavalo de sela? Concursos de marcha, longas viagens, cavalgadas ou um trabalho na fazenda ficam muito melhores em um cavalo de andamento tipicamente marchado.
Não conheço nenhum animal que cause mais fascínio nas pessoas. Essa é uma característica natural dos cavalos, mas também está diretamente relacionada à motivação proporcionada pelo estilo de vida e treinamento que lhe oferecemos. Precisamos de animais motivaos e isso depende em grande parte de nós.
E preferível um cavalo de sela que goste de gado. Isso faz diferença no dia a dia. O Mangalarga Marchado tem uma aptidão especial para isso, basta apenas que ofereçamos oportunidades dele mostrar.
Em se falando de cavalo de sela, sem resitência não chegaremos a lugar algum.
Administrador de empresas, cavaleiro profissional com diversos cursos de especialização em eqüino-cultura e gerente de esportes da ABCCMM
Há várias versões e até lendas para a denominação ‘Mangalarga’. A mais consistente, segundo pesquisadores, está relacionada com a Fazenda Mangalarga, localizada em Pati do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro.
Seu proprietário era um rico fazendeiro que, impressionado com os cavalos da família Junqueira, adquiriu alguns exemplares de Gabriel Francisco Junqueira - o Barão de Alfenas - fazendeiro do Sul de Minas e deputado na Corte.
Vez por outra os proprietários da Fazenda Mangalarga iam à Corte com os cavalos sul-mineiros. Quando alguém se interessava pelos animais, eles indicavam as fazendas do Sul de Minas como sendo a origem dos cavalos. Quando os compradores iam ao Sul de Minas, pediam cavalos iguais aos da Fazenda Mangalarga. E com o tempo, esta referência acabou transformando-se em nome.
Outras versões existem, mas ao que tudo indica, são baseadas em lendas e fantasias.
A raça Mangalarga Marchador é tipicamente brasileira e surgiu no Sul de Minas, através do cruzamento de cavalos da raça Alter - trazidos da Coudelaria de Alter do Chão, em Portugal - com outros cavalos selecionados pelos criadores daquela região mineira.
A base de formação dos cavalos Alter é a raça espanhola Andaluza, cuja origem étnica vem de cavalos nativos da Península Ibérica, germânicos e berberes. Os cruzamentos dessas raças deram origem a animais de porte elegante, beleza plástica, temperamento dócil e próprio para a montaria.
Os primeiros exemplares da raça Alter chegaram ao Brasil em 1808, com D. João VI, que se transferiu para a Colônia com a família real. Os cavalos dessa raça eram muito valorizados em Portugal e a família real investia em coudelarias (haras) para o aprimoramento da raça. A Coudelaria de Alter foi criada em 1748 por D. João V e viveu momentos de glória durante o século XVIII, formando animais bastante procurados por príncipes e nobres europeus para as atividades de lazer e serviço.
Quando Portugal foi invadido pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte, inúmeras fazendas de criação de cavalos da raça Alter, inclusive a Coudelaria Alter do Chão, foram saqueadas. Nos anos subseqüentes, os cavalos Alter remanescentes no país foram cruzados com diversas raças, principalmente com a raça Árabe.
Mas quando D. João deixou Portugal, trouxe para o Brasil alguns dos melhores eqüinos da Coudelaria Alter do Chão. Dos animais que vieram para o Brasil antes da invasão francesa e, portanto, exemplares puros da raça Alter, descende o garanhão ‘Sublime’, considerado o marco inicial da raça Mangalarga Marchador.
A tradição oral nos conta que em 1812, Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, teria recebido como presente do Imperador o garanhão Sublime. Gabriel Francisco teria, então, usado largamente esse reprodutor em suas éguas na Fazenda Campo Alegre, no Sul de Minas (a fazenda era uma herança de seu pai João Francisco Junqueira), daí resultando a base do que viria a ser o Mangalarga Marchador. As primeiras crias desses cruzamentos foram também chamadas de Sublime.
Quanto às éguas brasileiras utilizadas nos cruzamentos, estas foram originadas dos primeiros animais introduzidos no Brasil pelos colonizadores, sendo a maioria de sangue Berbere e Andaluz.
Desde o início dos trabalhos de sua seleção, Gabriel Francisco Junqueira levou em consideração o andamento cômodo, a resistência, rusticidade e o brio dos animais de sua criação. Naquela época, como o cavalo era o único meio de transporte, a notícia da existência de cavalos de andamento cômodo na Fazenda Campo Alegre despertou um grande interesse em todo o Sul de Minas e vários criadores adquiriram animais do Barão de Alfenas.
Alguns pesquisadores, porém, apontam algumas contradições assim como relatos dos descendentes diretos do Barão de Alfenas que não apóiam esta versão. Segundo os mesmos, as datas, tipo de cavalo presenteado, origem do cavalo etc. não são compatíveis com dados históricos da época.
Sugerimos a leitura da seção O Barão de Alfenas, do livro Mangalarga Marchador e Os outros Cavalos de Sela no Brasil, de Rosalbo F. Bortoni, para entender melhor a participação do Barão de Alfenas na origem do Mangalarga Marchador.
A História do Mangalarga está intimamente ligada à História dos homens que povoaram o Sul de Minas, a partir dos primeiros anos do século XVII. Estes primeiros habitantes da região eram mineradores, atraídos pelas noticias que se espalharam da ocorrência de muito ouro nos rios e ribeiros daquelas terras.
Algumas das famílias que se instalaram nesta região tornaram-se ancestrais de várias das mais tradicionais famílias mineiras, como os Junqueiras, os Resendes, os Andrades, os Meirelles, os Reis, os Ferreiras, os Carneiros, para citar parte delas.
Com o passar dos anos, a mineração foi sendo substituída pela agropecuária, com especial atenção para gado leiteiro e eqüinos para o trabalho.
Houve deslocamento dos que se interessaram pela agropecuária para a região de Baependi, Aiuruoca e São Tomé das Letras, onde já havia alguns moradores. Ali, nas terras mais férteis e nos campos mais vastos e de melhor topografia, os novos habitantes encontraram melhores condições para o que pretendiam que era desenvolverem-se na agropecuária.
Foi então que se iniciou a seleção dos cavalos que viriam a ser os Mangalarga.
Uma das famílias que se instalou na região das Comarcas de Baependi e Aiuruoca foi a de Helena Maria do Espírito Santo, que se casou com João Francisco Junqueira, o patriarca da família Junqueira.
Os descendentes de Helena Maria e João Francisco, ao começarem a trocar suas atividades de mineração pela agropecuária, desenvolveram um tipo de cavalo de porte médio, bastante forte, rústico e de boa ossatura. O andamento variava do diagonalizado até o lateralizado puro.
A seleção inicial se fez principalmente visando o andamento cada vez mais cômodo, trabalho esse que veio resultar na marcha batida ou picada, conforme a localização de cada núcleo. Naqueles mais próximos à região de maior influencia da mineração, a preferência era pela marcha picada. Nos mais próximos a Baependi, Aiuruoca, São Tomé das Letras, em que a atividade principal passara a ser a pecuária, havia clara preferência pela marcha batida.
O essencial, entretanto, era que o cavalo fosse rústico, confortável para o cavalheiro, frugal e esperto.
Rústico: A infra-estrutura regional era primária. Não havia grandes possibilidades de sobrevivência nem para os humanos. Quem, na circunstancia, poderia preocupar-se com manejo para os cavalos?
Confortável: O cavalo era o meio de transporte da burguesia rural.
Era o cavalo que o fazendeiro, sua esposa e a família toda iam vez por outra à cidade (no caso, ainda arraial), tendo a Igreja geralmente como chamamento maior. Havia, pois, que ser um cavalo de andamento pouco áspero, até porque na época era comum as senhoras montarem em cilhão.
Frugal: Pela própria vegetação local, pura camparia, e pelo costume arraigado - por necessidade de sobrevivência num meio razoavelmente inóspito e pouco fértil - de não se suplementar a alimentação da tropa.
Esperto: No sentido mais amplo desta palavra, incluindo-se o caráter, pois o cavalo tinha que aprender a se defender, pelas razões acima expostas. Nas caçadas, sua esperteza era continua sendo posta à prova.
Houve, portanto, uma seleção natural e os animais mais capazes e que atendiam os objetivos dos criadores deram os primeiros passos para o aparecimento das linhagens.
As primeiras notícias que se têm sobre seleção e aprimoramento de cavalos são a partir de João Francisco Filho, com maior ênfase para a atuação de José Frausino, seu filho (filho e neto, respectivamente, de Helena Maria Espírito Santo e João Francisco Junqueira), que estabeleceram-se na Fazenda do Favacho.
Propriedade do patriarca da família Junqueira, João Francisco Junqueira. Ali nasceu, em 1782, seu filho Gabriel Francisco Junqueira, depois Barão de Alfenas. Gabriel Francisco se casou com Ignácia Constança de Andrade e tiveram 10 filhos. Entre eles, dois se destacaram na criação de cavalos: Francisco Gabriel de Andrade Junqueira, chamado Chiquinho do Cafundó, de quem descendem os proprietários da Fazenda Tabatinga, e Antônio Gabriel Junqueira, da Fazenda Narciso, onde também se criaram famosos reprodutores da raça.
À Gabriel Francisco Junqueira, que continuou residindo na Fazenda Campo Alegre, é creditado o mérito de ter criado um tipo peculiar de cavalos, assim como a fixação do andamento marchador desses animais, tudo a partir de cruzamentos feitos de suas éguas com um garanhão que lhe fora presenteada pelo então Imperador do Brasil.
A tradição oral conta que em 1812, Gabriel Francisco, o Barão de Alfenas, teria sido presenteado pelo Imperador com um reprodutor da raça Alter. Gabriel Francisco teria, então, usado largamente esse reprodutor em suas éguas, daí resultando a base do que viria a ser o Mangalarga Marchador.
Apesar das controvérsias em relação a essa história, não resta a menor dúvida de que ele criava cavalos. E que Gabriel Francisco, juntamente com um sobrinho, José Frausino, se preocupou mais do que os outros com a evolução de suas montarias.
Em 1828, José Frausino adquiriu para a Fazenda do Favacho um potro, chamado de Fortuna, em alusão ao alto preço pago por ele.
Fortuna foi o reprodutor que maior influência teve na fixação de um tipo, contribuindo definitivamente para a formação e fixação dos caracteres da raça Mangalarga.
A influência de Fortuna foi intensa e extensa, já que também nos animais posteriormente selecionados no Estado de São Paulo a descendência desse reprodutor foi de imensa importância.
Na Fazenda do Favacho foram gerados os Fortunas II e III. De Fortuna III, levado para São Paulo, depois de ter servido na Fazenda do Favacho por alguns anos, descendem os Fortunas IV e V, tendo voltado para a Fazenda do Favacho um descendente deles, o Armistício, que foi pai de Candidato, cavalo de imensa importância no criatório sul-mineiro em geral.
Dos Fortunas também descende Colorado, de capital importância no criatório do Mangalarga, também chamado Mangalarga Paulista.
Tanto nos rebanhos de Minas Gerais, como nos de São Paulo, estes também iniciados por membros da família Junqueira, se nos detivermos numa análise genealógica, constataremos que as boas linhagens são quase todas provenientes do Fortuna.
Ainda na Fazenda Favacho, tiveram influência no correr dos anos os reprodutores: Plutão, Canadá, Duque, Calçado, Manco, Trovão, Montenegro, Jambo, Gesso, Albatroz, Fla-Flu, além dos já citados Armistício e Candidato.
Construída em 1831. Que teve como seu primeiro proprietário João Pedro Junqueira, que foi pai de João Pedro Diniz Junqueira. Uma filha deste casou-se com José Frausino Fortes Junqueira, e a partir daí a criação de cavalos tomou vulto na fazenda. Tropa muito semelhante em tipo e aptidões à da Fazenda do Favacho, com ênfase para as qualidades funcionais do cavalo.
Garanhões que maior influência tiveram na tropa: Pégaso, Canário, Glicério, Armistício, Rádio, Rádio II, Bibelô, Beduíno, Candidato e Sátiro, sendo que este último foi para a Fazenda do Angathy, onde exerceu marcante influência.
Fazenda Campo Lindo, nascida m 1837, pertenceu a João Bráulio Fortes Junqueira e Gabriela Vitalina Diniz Junqueira.
Apaixonado pelo campo e pela pecuária, João Bráulio tornou famosa sua marca ‘JB’. João Bráulio conseguiu formar tropa de grande refinamento e expressão racial, sem se descuidar das qualidades funcionais.
Da Fazenda Campo Lindo um outro reprodutor que exerceu grande influência nas tropas do Sul de Minas. Trata-se de Beline, nascido em 1901. Vejamos alguns exemplos: Pégaso, filho de Beline, serviu na Fazenda Traituba, gerando o excelente Rádio, que por sua vez gerou Sátiro, de capital importância na fixação de um tipo na Fazenda do Angathy.
No atual rebanho Herdade domina também a origem de Beline, através de Brasil e Ouro Preto JB, filhos; Londres JB, neto; Beline e Seta Caxias, bisnetos de Beline.
Clemenceau II, neto de Beline, é de uma suma importância no rebanho da Fazenda Tabatinga, já que era avô de Tabatinga Predileto e bisavô de Tabatinga Cossaco.
Na região de São Vicente de Minas, Beline também exerceu marcante influência. Assim é que as Fazendas Engenho de Serra, Pitangueiras, Bela Vista e Porto usaram por vários anos reprodutores ‘JB’, descendentes de Beline: Ouro Preto JB, filho de Beline; Clemenceau II JB, V-8 JF, Panchito JB e Londres JB, netos de Beline, além de Baluarte, filho de Panchito, bisneto, portanto de Beline.
Muito grande foi e é a influência dos animais da Fazenda Campo Lindo nos criatórios atuais, e muitos foram os reprodutores que continuaram na própria Campo Lindo ou influenciando outros criatórios: The Money, Farol, Rio Negro, Clemenceau I e Clemenceau II, Ouro Preto JF, Candidato, V-8, Sargento, Diamante e outros mais.
Criatório já extinto. Entretanto seus animais tiveram e têm marcante influência na raça Mangalarga Marchador.
Era de propriedade de Antônio Gabriel Junqueira, filho de Gabriel Francisco Junqueira, Barão de Alfenas.
Quase todas as tropas daquela época foram beneficiadas por reprodutores da Fazenda Narciso, destacando-se entre eles: Abismo, Trovador, Pretinho, Primeiro, Mussolino.
Construída por volta de 1782 por José Garcia Duarte, bisavô de Cristiano dos Reis Meirelles, sob cuja influência tomou vulto na Fazenda do Angathy o criatório de cavalos.
Reprodutores que influenciaram na formação e continuidade da tropa: Bônus, Mozart, Mineiro, V-8 JF, Miron, este, filho de Sátiro, cavalo vindo da Traituba e de fundamental importância na Fazenda do Angathy, além de Salmon, Veto e Yankee.
Foi da Fazenda do Angathy um dos mais célebres reprodutores da raça, o Caxias I, nascido na Fazenda Luziana, em Leopoldina. Era também da Fazenda do Angathy o garanhão de nome Angathy, registrado sob o número 1 na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador.
A partir daquelas seis linhagens iniciais, a criação dos cavalos marchadores rapidamente se espalhou pela região sul-mineira, começando a alcançar regiões mais distantes, mas todas elas, inicialmente, no Estado de Minas Gerais. Hoje, porém, já se espalhou por todo o país e por alguns países no exterior.
Muitos outros criatórios existiram na região sul-mineira. A criação do Mangalarga Marchador se deveu basicamente ao trabalho da família Junqueira. Mas sua consolidação se fez com o trabalho de grande número de pessoas. É provável que essas pessoas talvez nem estivessem imbuídas da importância que viriam a ter os animais que criavam.
Eram fazendeiros que precisavam de cavalos para o trabalho. Gostavam daqueles animais que ofereciam conforto ao cavaleiro, e os criavam. Cada qual colaborou com uma pequena parcela para a fixação dos caracteres raciais e para maior divulgação da raça.
O cavalo une. O seu lombo aceita a todos sem preconceito. Nas suas festas se reúnem pobres e ricos, jovens e velhos, homens e mulheres. Todos ali se conhecem. Sem precisar ser. Sem precisar ter. Tornam-se todos iguais. Por causa dele surgem grandes amizades.
Naquele abastado empresário e naquele modesto homem, encontra-se uma paixão, antiga ou recém descoberta por esse animal sublime. Nos encontros vai-se para ver. Para estar simplesmente. Ao cavalgá-lo, adultos tornam-se crianças com seus brinquedos favoritos. As crianças sentem-se grandiosas, comandando o imponente animal. Os sisudos perdem as máscaras e gargalham junto com aqueles a quem antes queriam impressionar. Até os que se dizem apenas comerciantes curtem o “jogo do cavalo”: “Esse é raro, por isso vale mais”; “Essa foi campeã, só troco por três das suas melhores”; “Esse outro não dou, não vendo nem troco!”; “ Dessa aqui tenho ótimos produtos. Só vendo caro”. E assim, nesse jogo, vão aprendendo que o nosso cavalo é sem fronteiras. Que é um indivíduo de respeito! Pode ser filho de alguém importante. Pode ter potencial para brilhar. Alguns valem muito porque carregam com cuidado uma criança. Alguns são tão macios que poderiam carregar garçons em festa de pompa. Outros são de encher os olhos de qualquer sujeito. Vão aprendendo, enfim, que por cada um desses detalhes, o Marchador é apaixonante mesmo!
Ele une o Passado e o presente. Ele faz sonhar. Quando o cavalgamos o tempo parece não existir. Inteligente, aprende a se posicionar para abrir porteiras. Depois de treinado, aparta sozinho o gado no curral, pois aprende a gostar de apartar, e aí, que se segure quem estiver em cima! Quando exibidos, alguns parecem desfilar, altivos. Existem os que atendem pelo nome, os que reconhecem a voz do dono.
Muitos são bastante educados, e esperam o condutor acabar de se posicionar na sela e dar o comando para só então saírem do lugar. Outros são mais temperamentais e só se deixam montar pelo dono, mostrando que também tem vontade. E há aqueles ainda que demonstram aborrecimento ou tristeza ao serem separados dos seus companheiros de campo, mostrando que tem sentimentos! São fantásticos mesmo. Esse é o nosso cavalo: um animal esculpido e presenteado a nós por Deus, capaz de fazer coisas além da nossa compreensão. Ele inspira, ele une, ele alegra, ele apaixona, ele rompe tempo e espaço encantando quem o conhece. Tenho o prazer de fazer parte da grande família do Mangalarga Marchador, e de dividir com você, leitor, um pouquinho dessa paixão.
Liliana Barreto Wanderley
Este Hino, reconhecido pela ABCCMM, foi escrito e interpretado por Eduardo Araújo.
Ídolo da Jovem Guarda, título do gênero musical que encantou a juventude na década de 80
Nasci no sertão mineiro
Apesar de caipira pobre, eu descendo de nobre
Fui criado no cerrado, pra lidar com gado
Para percorrer distâncias
Aprendi a marchar
Pro meu dono não se cansar
Sou Mangalarga Marchador
Aquele que as margens do Ipiranga
Montava o imperador.
Sou Mangalarga Marchador
Em toda história do Brasil estou
Tenho fôlego de gato
Eu resisto ao carrapato, sou manso como um corde
Como um raio sou ligeiro, sou cavalo da parteira
Sou cavalo sem fronteira
E só tenho uma intenção
Servir a todos sem distinção
Sou Mangalarga Marchador
Aquele que entre altos e baixos
Sempre lhe apoiou
Sou Mangalarga Marchador
Em todo estouro de boiada estou